quarta-feira, maio 30, 2012

Meio-fio

Dói acordar, sentir o chão tremer, os olhos ainda inchados de sono, as pernas não aguentam o peso do corpo. Me olho no espelho: quem é essa pessoa sorrindo um sorriso manchado, doente, arranhado pelas cordas que a vida amarra e desamarra?

Parece que deixaram uma zona pela casa. Está tudo horrível.

O sol lindo lá fora me desafia, diz: covarde, medroso, não merece esta luz!

Hoje eu acordei suado, com o coração pendendo por uma pontinha, triste, como se nada tivesse valor, e todo esforço que eu faça só me transforme naquele monstro que eu repudio cada dia mais.

Eu queria um abraço, mas eu não tinha. Eu não tenho coração.

Saí na rua, olhei o sol, desafiei sua imponência, sofri com seus raios, sua raiva. De repente, comecei a chover. Uma chuva dolorosa, que sai de mim, que escorre pelo rosto, faz molhar a camisa, suar e gritar. Faz querer sair correndo, fugir deste mundo, onde tudo é triste, onde vivemos correndo atrás de amor, sonhando com amor, e, ao mesmo tempo, fugindo dele.

Frio, encurralado, me sento no meio-fio. Não aguento ir até o fim da rua. Feio, sujo, suando como um esguicho, chovo como se não tivesse mais jeito.

Estou com medo. Estou com medo.

Estou em casa agora. Chovo em mim, inundo os outros com meu medo sujo, meu sentimento de angústia. Uma impotência, uma incapacidade de mudar, de crescer. Estou cansado disso. Respiro fundo.

Eu amo, eu amo. É por isso que eu tenho certeza que tem alguma coisa no sol que ainda vale à pena olhar; que ainda tem um verde bonito debaixo de toda essa pele velha que eu visto. Eu preciso me rasgar, chover até ressecar; preciso expulsar as vísceras pela boca.

Quero doer, quero chover, quero que o amor e os vermes venham me comer. Quero um cigarro, uma xícara de café, a queda livre que me atrai até a sacada. Calada.

Não vou mais chorar hoje. Vou sair na rua de novo. Não sei se eu volto.

Gui