sábado, agosto 27, 2011

Vamos Falar Sobre Impotência Sexual

É, vamos falar sobre esse assunto que causa tanto constrangimento em quase todos os homens e mais uma boa parcela das mulheres. Já parou pra pensar de onde vem todo esse constrangimento?

Primeiro passo: vá ao Google Imagens e procure Impotência Sexual. Estou usando o termo “impotência sexual” pelo seu sentido humilhante mesmo, já me explico melhor. Tenho certeza de que lá você vai encontrar um monte de imagens, e que o conteúdo delas é, sem dúvida, humilhante, vexatório, ridicularizante, e talvez até cômico. É piada mesmo, gente. Agora vou lhes dizer o que é que vocês estão vendo: é a imagem que causa a impotência, muito mais do que a impotência que causa a imagem.

Vamos pensar sobre isso.

Já parou pra pensar o quanto o homem é influenciado por toda a propaganda vexatória que a sociedade faz sobre a impotência sexual? Cara, quando o homem broxa, a única coisa que acontece de verdade é a flacidez do pênis, que se segue – e realimenta – uma gama absurda de preocupações e nervosismos, ou seja estresse. Percebe como o homem é muito mais afetado pela imagem de que broxar é vexatório, do que pela realidade concreta? Percebe como grande parte das imagens mostra um homem envergonhado ao lado de uma parceira insatisfeita?

Pensa na ideia transmitida pela imagem: é ela que forma a vergonha no homem que broxa. Sim, porque o conjunto de informações disponíveis e retransmitidas pela sociedade leva a crer que a impotência sexual é, socialmente, a característica que separa homens superiores e homens inferiores. Bom, a verdade é que todo homem vai broxar alguma hora, não porque ele “não funciona”, mas porque essa é uma condição fisiológica, que deriva do estado emocional. É claro que se  persistir a dificuldade de ter ereção (ou de mantê-la) como algo frequente, é importante consultar um médico, mas com a noção de que a maioria dos problemas sexuais são de origem psicológica, ou seja, cabeça cheia de preocupações.

Sabe o que mais: e quando a mulher “broxa”? Quero dizer: a mulher pode broxar sim. Ela pode não desenvolver a excitação necessária para se lubrificar, ela pode sentir dor e desconforto ao sexo, ela pode não sentir tesão. Mas isso não é encarado pela sociedade como motivo de humilhação. Quero dizer: o homem deve “cumprir seu papel”, dar prazer à parceira, deve sempre estar a fim de transar, e se ele, por algum motivo não estiver legal pra isso, ele é “impotente”. Machismo, não é?

Impotência sexual, disfunção erétil, “broxar”; Todos esses nomes se referem à mesma coisa, mas todos têm significados diferentes. “Disfunção erétil” não é um nome para tornar o ato de broxar “mais aceitável”, é uma estratégia de marketing que visa transformar uma situação cada vez mais frequente em nossa sociedade numa “doença”, que pode ser comercializada¹ e tratada com remédios e outros tratamento místicos. Agora, “impotência sexual” é que é a grande história. Nenhum outro nome é tão eficiente em termos de transmissão de ideias. Isso acontece porque é uma ideia muito comum e muito negativada pelas pressões sociais; ou seja: é muito fácil comprar a ideia de que o homem que broxa é IMPOTENTE, incapaz de satisfazer a parceira ou o parceiro, é menos potente do que o “normal”, ele é incompetente, envergonha a pessoa que está na cama ao seu lado. Todas essas ideias têm um caráter negativo e desestimulante; muitas delas passam pela cabeça do homem quando ele broxa.

Ou seja, o que eu estou dizendo aqui é que a imagem – tendo imagem como o conjunto de ideias reproduzidas na sociedade – da IMPOTÊNCIA sexual INIBE a POTÊNCIA SEXUAL, tanto porque ela se torna uma preocupação e uma vergonha na cabeça do homem, quanto porque ela denigre o homem ao olhos da parceira ou do parceiro.

E vou além disso. A ideia veiculada pela imagem da impotência sexual serve muito bem ao seu propósito: ela inibe a POTENCIALIDADE SEXUAL de toda uma sociedade. Digo potencialidade sexual, porque torna a sexualidade passível de ser algo vexatório. E a sexualidade deve ser livre; deve ser livre para ser como for, magra ou gorda, homo ou hetero, matrimonial ou adúltera, individual ou grupal, que seja livre de mercantilização e de uma influência machista e capitalista que a torna feia e reta, que a torna pornográfica e sem sensualidade, que a torna cada vez mais distante do que é: a troca de prazer mútua, que eleva nossas almas a um estado de êxtase igual nenhum outro na terra.

Agora, pensa bem: quem é que está inibindo a sua sexualidade?

G. Tritany

 

1: “Os Vendedores de Doenças” – Ray Moynihan e Alan Cassels

sábado, agosto 06, 2011

Sobre conhecimento e emoção

"O vento bate forte, afasta nossas esperanças e nos faz tremer da cabeça aos pés. E nesse momento, escuto uma voz amiga a explicar conceitos difíceis a quem ainda não os apreendeu. Aí tudo fica claro…"

Por certo, explicar aqui leva tempo e é, com certeza, ineficaz, mas o faço na esperança de que um dia possamos compartilhar a emoção de um conhecimento novo, pra que a coisa se esclareça sozinha; pra que tenhamos a experiência de um laço emocional que permite a total compreensão da idéia.

A idéia é simples. Todo conhecimento, toda apreensão da realidade, toda experiência tem seu componente racional e seu componente emocional. Não é difícil entender que o componente racional é aquele que se transmite através da comunicação, da transmissão de idéias, por qualquer meio, seja escrita, fala, gestos, seja imagem, seja por vídeo. O componente emocional é mais que isso, ele vem de uma associação de sentimento que o indivíduo cria em relação à experiência vivida. 

Isso permite compreender por que o conhecimento seja algo subjetivo, primariamente, já que ele depende da relação emocional estabelecida entre o observador e o fato observado, ele depende da existência de laços de sentimento que justifiquem a plasticidade neural, que justifiquem a reorganização das conexões mentais, não para o armazenamento de um conceito – que é racional, e portanto, meramente cerebral –, mas para a associação de algo mais profundo, que é tão simples como atrelar a experiência à emoção que ela desperta.

É claro que dessa simples explanação derivam muitas coisas, sendo que a mais óbvia, eu quero expor aqui, relegando as muitas outras à oportunidade de sentarmos para conversar.

Imaginemos por que são necessários tantos anos de estudo para a acomodação de tao poucos conceitos – e aqui é precisa a utilização desta palavra – quanto são transmitidos durante toda a vida escolar do indivíduo. É claro que, com a capacidade incrível de aprendizado de uma criança, poderíamos ser muito mais breves na transmissão racional de conceitos, porém com uma apreensão muito mais precarizada, já que o componente emocional é imprescindível para que tais conceitos se transformem em conhecimento. Esse "conhecimento" depende da relação emocional que o estudante desenvolve com a escola; depende da subjetividade; depende do quão à vontade esse indivíduo se sente em relação à criação de um laço emocinal com o conjunto "ambiente escolar + professor + colegas + experiência extraclasse". E, de verdade, isso faz diferença, e por isso é tão importante que se estimule o componente subjetivo do aprendizado, pois o desenvolvimento cognitivo precisa que o sujeito aprendiz experencie todas as situações que levem à formação do que, de maneira ignorante e meramente racional, chamamos de caráter. É por isso que a escola tem se mostrado, a cada geração, mais ineficiente em permitir a apreensão dos conhecimentos abordados, porque os trata como conceitos racionais, quando cada conhecimento pesquisado na história da humanidade foi fruto de um envolvimento emocional entre pesquisador e pesquisa, entre observador e objeto, entre pensador e pensamento. Por que não conseguimos estabelecer essa relação entre o estudante e o estudo?

Por certo, são questões que permeiam o método, e talvez precisem ser discutidas mais profundamente; mas fica a idéia de que sempre poderemos sentar a conversar, na esperança de que essa experiência se torne um sentimento entre nós; ou, do contrário, estaremos só jogando conversa fora. Literalmente.

 

G. Tritany