quarta-feira, fevereiro 27, 2013

A noite chove em mim.


Que é essa saudade no meu peito?
Que é essa insegurança que bate toda vez que me pego sozinho, distraído. Será que é medo de durar para sempre? Hoje só mergulho em dúvidas, e quando a chuva caiu, só molhou minhas esperanças, que, pesadas, desceram pelos bueiros sujos da cidade, junto com todos os outros sonhos daqueles infelizes que caminhavam apressados ao meu lado.
Já está na hora de ir para casa, mas eu não me levanto, não tenho ânimo para me olhar de novo sozinho, preparando o jantar, olhando o prato vazio à minha frente. Ali deveria ter um sorriso, um rosto amigo, um jeitinho de olhar... desvio os olhos para o livro de novo. Está tudo bagunçado em minha mente. Enquanto percebo as dores da noite, me preparo para um minuto de esquecimento, de teatro. Desligo a mente, dali nada vai sair. Assim eu relaxo, pelo menos por um segundo, até perder a hora.
É tarde, estou cansado, mas estou sem vontade de dormir. Fica frio o quarto vazio, e eu fico me perguntando 'onde foi parar'?
Só resta calar.
Em algumas horas, preciso estar novo, de novo. Preciso dormir.
Preciso de tanta coisa...!

segunda-feira, fevereiro 25, 2013



O suor escorre pela roupa, carrego um peso que mal posso suportar. Mas dessa vez não é do coração. Ainda assim, toca na minha cabeça a música que não me deixa esquecer a vontade de sair correndo, de pegar o primeiro ônibus, de fugir desse frio artificial, desse ambiente seco e sem voz. Quero suar sob a luz da lua, respirar baixinho, ver a mágica subir em fumaça.
Meu coração chora ao ouvir a música que eu há tanto conhecia, ao ouvir sussurrar no meu ouvido uma outra voz pra dizer as velhas palavras, a mesma música. Longe, minha mente se esvai, eu desapareço em retratos.

domingo, fevereiro 24, 2013

Pensemos na manhã, esqueçamos o resto!


O sol faz ebulir o vapor que nos esquenta os ombros, que faz suar a testa. Mas os olhos se arregalam, e vem o vapor subir pelas narinas, tapar os ouvidos e aguçar o toque. Articulam-se as mãos, revelando o que há de mais neste mundo, que não pode ser visto por dentro da relação estrutural, mas de fora. Nem tudo são sons numa conversa, mas o violão pode ser o meio fluido por onde as palavras carregam a história.
Mas a companhia é boa, e a realidade está em debate. Quase não noto que o dia passa rápido, mas passa bem. Parece que estrelas passaram sobre as nossas cabeças enquanto o sol nos impede de vê-las.
Afinal, é domingo, que mais poderia esperar?
No caminho da libertação, fortes ondas podem ser ouvidas, trazendo o sopro do mar, aquele que nunca vimos juntos. Que azar.
Alegra me o coração saltar de dentro de uma onda com os braços abertos, para mergulhar no céu, onde sou livre como um pássaro para voar, para esquecer. Steiner está errado. Esquecer não muda a realidade, não amadurece nada.
Nada muda o fato de que sozinho, já em casa, meu corpo salgado estranha a solidão no vazio deste sofá tão vasto. O mesmo vazio que me empurra para fora do sono, apertado na cama. Nada que eu possa parar por vontade. Qu'eu sinto agora é só saudade. Steiner está errado. Ou é a sua interpretação que está. A coisa não se torna automática, e se virar isso, o esquecimento é maléfico.
Agora sinto na varanda o cheiro da jornada mais cedo. Me levava para fora de mim, para um plano onde é difícil ver esse coração bloqueado, batendo meio torto. Agora sinto que aquilo que pulsa em mim tem nome, e causa um embrulho no estômago. Ou é só o ajeitar de coisas no vazio. Quanto mais eu como, mais me encho de nada.
Mas a violência das ondas ainda me molha as ideias, dá vontade de sorrir para a lua enorme, que eu vejo de minha varanda. Vapores agora sobem do chá, que eu materializo sobre o banco de madeira ao meu lado, de tanta vontade, mas que ainda está sobre a mesa, esperando para ser servido.
Que seu sabor possa me fazer lembrar de ontem.

sexta-feira, fevereiro 22, 2013

Tato?


O que é essa sensação? A sensação da falta de um toque, alguma coisa que faça a pele sentir a maciez de outra pele, o suficiente para trazer a sensação agradável de que se pode dormir em paz. Eu não consigo dormir em paz.
É realmente interessante, estive pensando outro dia, como é possível que nos relacionemos todos os dias com muitas pessoas, que tenhamos conversas longas e discussões que provocam nossas mentes e nossos corações, sem que falemos de nós mesmos, do que somos e do que sentimos. É incrível como é possível conhecer tanta gente e poder chegar em casa com a certeza de que ninguém me conhece.
E o mais engraçado é a capacidade de sentir vergonha, uma vergonha dolorosa, de ser gente, de ter sentimentos normais, de ter emoção. Não tem graça nenhuma. E todo momento é mais solitário que o anterior. As relações parecem não fazer sentido, e tudo o que sobra são lembranças do passado, fomentadas pela solidão que faz com que minha voz desenrole longas conversas comigo mesmo.
Se eu pudesse voltar atrás, faria diferente? Será que seria capaz de realmente sentir o que as pessoas sentem, de estar no mesmo nível de relação, de achar normal todas as emoções pre-concebidas, trazidas de um programa autodidático subconsciente coletivo de ideologias imundas? Eu não sei. E se soubesse, voltaria atrás, só para rever cada degrau em que pisei até descer a este ponto, onde ninguém pode mais descer, porque eu mesmo rompi a escada, o caminho que levava até mim.
Não sei, gostaria de um abraço agora. Mas um sincero, com direito a abraçar o quanto quiser, até os olhos baixarem e dormir suavemente, sem medo, preocupações ou dores.
O sono vem, mas não traz consigo a calma. É um sono agitado, apertado, angustiado.
Boa noite. Vou abraçar meus sonhos.

É verde, mas é podre.


Que dor. Não sentia nada assim há um bom tempo. É a dor de perceber que se está sozinho.
Me olhei no espelho, eu vi um personagem. Uma cara falsa, feito máscara, que todos veem, mas ninguém sabe o que vão encontrar atrás dos olhos escondidos sob a secura das lágrimas que não me caem.
Dói querer dizer tanta coisa e secar na garganta, engolir todas essas palavras que me irritam a mucosa gástrica até sangrar, e me fazer vomitar sozinho no quarto escuro os meus sentimentos mais meus, que eu não conto pra ninguém. Dói descobrir que nada vai funcionar, e que vou continuar tendo medo enquanto não transformar a pessoa que sou embaixo dessa fantasia, embaixo dessa farsa, dessa pele que eu troco, que eu mudo, e faço muito bem, como se todos pudessem ver que sou assim: nu.
Não é caráter, não é muro, não é nada que possa parecer bonito de dizer, não é nada que possa parecer interessante, não é a poesia barata que procuro pra acalmar minha ansiedade. É náusea, é um verde que eu agora consigo ver realmente. Sai de dentro de mim e enche minhas narinas com o cheiro desgraçado que eu sinto toda vez que consigo olhar por trás das íris. É sujeira que fica agarrada em minhas unhas mal cortadas.
Como eu queria ter feito tudo certo...
Agora é tarde. Só sobrou o sentimento horrível de acordar mais um dia sem ter com quem dividir essa angústia, essa vontade de caminhar para qualquer lugar longe daqui, para nunca mais voltar, não mais sentir esse cheiro, não querer mais ver o mar. Nas ondas, esqueço, amadureço, mas me transformo na ilusão de que tento fugir. Quero ser engolido, se não puder gritar as palavras que me agarram o palato e ardem o dia todo. Quero extirpar as amídalas fedorentas, inflamadas, gonorreicas, inúteis. Não são para proteger do que entra. Filtram as palavras e os sentimentos – só resta o personagem.
Sou ator? Não. Sou fraco. Fraco para admitir que aquele que me olha da janela por sobre minhas olheiras é o real, que é ele quem inventa essa quimera saída de cada história, de cada livro, para esconder o monstro que realmente é. Essa quimera que lhes fala todos os dias, que sorri, que canta, que desaba em lágrimas falsas e é capaz de dizer que ama.
Não existe amor. Não existe; como poderia existir, se tudo o que vejo é errado e feio, e dói como vontade de voar pela sacada, numa viagem rápida até o chão.
O vento rasga essa cara de carne podre. Eu ligo para você. Que sorte, você não atende. Não imagino que tipo de coisa poderia sair da conversa entre nossos medos, entre nossas dores. Prefiro calar.
Que farei amanhã, quando o novo sol surgir, rasgando-me uma rima onde deveria costurar os lábios? E os amarelados olhos verão o céu. Haverá vontade de ver o mar, de cair na ilusão. Haverá vontade de dizer a verdade. Que verdade, pelos céus, que verdade? Se em plena carência não consigo estender a mão e pedir a menor esmola de toque e carinho que pode existir. Preciso de uma pele. Qualquer pele, que me encoste e diga: vem comigo. Preciso sentir que também sou gente, porque agora só consigo ver a casca de ovo embaixo desses pelos, dessa ridícula barba e o sorriso demente.
Doente, estou só.