sábado, agosto 06, 2011

Sobre conhecimento e emoção

"O vento bate forte, afasta nossas esperanças e nos faz tremer da cabeça aos pés. E nesse momento, escuto uma voz amiga a explicar conceitos difíceis a quem ainda não os apreendeu. Aí tudo fica claro…"

Por certo, explicar aqui leva tempo e é, com certeza, ineficaz, mas o faço na esperança de que um dia possamos compartilhar a emoção de um conhecimento novo, pra que a coisa se esclareça sozinha; pra que tenhamos a experiência de um laço emocional que permite a total compreensão da idéia.

A idéia é simples. Todo conhecimento, toda apreensão da realidade, toda experiência tem seu componente racional e seu componente emocional. Não é difícil entender que o componente racional é aquele que se transmite através da comunicação, da transmissão de idéias, por qualquer meio, seja escrita, fala, gestos, seja imagem, seja por vídeo. O componente emocional é mais que isso, ele vem de uma associação de sentimento que o indivíduo cria em relação à experiência vivida. 

Isso permite compreender por que o conhecimento seja algo subjetivo, primariamente, já que ele depende da relação emocional estabelecida entre o observador e o fato observado, ele depende da existência de laços de sentimento que justifiquem a plasticidade neural, que justifiquem a reorganização das conexões mentais, não para o armazenamento de um conceito – que é racional, e portanto, meramente cerebral –, mas para a associação de algo mais profundo, que é tão simples como atrelar a experiência à emoção que ela desperta.

É claro que dessa simples explanação derivam muitas coisas, sendo que a mais óbvia, eu quero expor aqui, relegando as muitas outras à oportunidade de sentarmos para conversar.

Imaginemos por que são necessários tantos anos de estudo para a acomodação de tao poucos conceitos – e aqui é precisa a utilização desta palavra – quanto são transmitidos durante toda a vida escolar do indivíduo. É claro que, com a capacidade incrível de aprendizado de uma criança, poderíamos ser muito mais breves na transmissão racional de conceitos, porém com uma apreensão muito mais precarizada, já que o componente emocional é imprescindível para que tais conceitos se transformem em conhecimento. Esse "conhecimento" depende da relação emocional que o estudante desenvolve com a escola; depende da subjetividade; depende do quão à vontade esse indivíduo se sente em relação à criação de um laço emocinal com o conjunto "ambiente escolar + professor + colegas + experiência extraclasse". E, de verdade, isso faz diferença, e por isso é tão importante que se estimule o componente subjetivo do aprendizado, pois o desenvolvimento cognitivo precisa que o sujeito aprendiz experencie todas as situações que levem à formação do que, de maneira ignorante e meramente racional, chamamos de caráter. É por isso que a escola tem se mostrado, a cada geração, mais ineficiente em permitir a apreensão dos conhecimentos abordados, porque os trata como conceitos racionais, quando cada conhecimento pesquisado na história da humanidade foi fruto de um envolvimento emocional entre pesquisador e pesquisa, entre observador e objeto, entre pensador e pensamento. Por que não conseguimos estabelecer essa relação entre o estudante e o estudo?

Por certo, são questões que permeiam o método, e talvez precisem ser discutidas mais profundamente; mas fica a idéia de que sempre poderemos sentar a conversar, na esperança de que essa experiência se torne um sentimento entre nós; ou, do contrário, estaremos só jogando conversa fora. Literalmente.

 

G. Tritany