segunda-feira, abril 30, 2012

Hoje eu acordei de cabeça pra baixo,

de pés descalços, cabelos molhados. Um gosto de sal na boca; o corpo cheio de areia, como se tivesse rolado na maré a noite toda, desacordado.

Amarrado pelos calcanhares, só conseguia ver o sol que me ardia os olhos, enquanto o mar me ardia a pele ralada. Sangue e sal se misturavam.

E aí veio você: me olhou com aqueles olhos de cansaço, que você sempre exibe. Saltou por cima das ondas, esqueceu que eu estava ali. Levantou as saias, e se aproximou do mar.

E todos os braços que te ajudavam a me prender, agora também me puxavam para perto de você; afogavam minha cabeça, me faziam engolir tantas preces, tantas histórias que se apagavam da minha memória, como se empurrassem acordes pela goela de uma viola…

Sensual e feia, sua voz cantava uma música de saudade. Uma saudade dolorosa, mas secreta. Sem segredos, você nunca cantava essas coisas tristes quando a gente era um. E minha mente ainda viaja, agora, de longe, nos versos que você sussurrava para Iemanjá.

Suave, mas rouca, pedia para voltar. E ignorava minha presença sofrida, louco por me agarrar em suas coxas; desamarrar os pés suspensos por cordas duras.

Eu não quero ir.

Me ensina de novo a escrever seu nome na areia, pra quando o mar lavar, levar pra mim todas as melodias roucas e as histórias bobas, que você me contava antes de sorrir.

G. Tritany

domingo, abril 22, 2012

Mergulhado no cosmos...


...tenho pensado muito se existe uma lógica na natureza que permita que os eventos se organizem de alguma forma que se propague, como num fluxo energético, que dissipado pela natureza, se concentra em focos, gerando eventos consenso.

Essa discussão toda, pode parecer algo relacionado à fé ou uma visão alternativa à religiosidade cristã, que substitua a improvável "vontade divina" nas transformações, mas não é nada disso.
É uma questão biofísica: eu e você somos matéria. E é essa matéria viva que produz energia a todo momento. Essa energia que governa os processos biológicos tem uma origem evolutiva, e se propaga além do indivíduo. De alguma forma, isso significa que as ações e tendências biológicas são governadas por um processo energético, que é também social, porque as ferramentas da sociedade são usadas para transferir essa energia. 
Assim, quando transmitimos emoções através de um texto, uma poesia, uma música, estamos dissipando energia na construção de um meio social que permita repassar uma emoção. A recepção de uma emoção diferente da originalmente transmitida, neste caso, pode acontecer, porque o meio usado para propagação de energia é um meio material de comunicação. É compreendido de maneira diferente pelos indivíduos.
Outra maneira de ver isso é quando uma prática religiosa imprime ao indivíduo uma sensação espiritual. Sem entrar no assunto da espiritualidade, eu digo que ao menos ela pode ser compreendida como um estado psico-emocional e, às vezes, sensorial. Enfim, um processo que também é biológico. Assim, dá pra dizer que a atividade humana social é capaz de manipular energeticamente a atividade biológica. Eu vejo isso de uma maneira simples: práticas religiosas teriam essa capacidade, mas também práticas sociais como o convívio social, o sexo, a arte, por resultarem de uma interação entre o indivíduo, através de seu caráter, com a sociedade e, diretamente, com outros indivíduos, dão passagem a um fluxo energético que tem influência sobre os aspectos bio-psicológicos da vida. 
Talvez isso tenha algo a ver com a biofísica do orgone, descrita por Reich. Talvez tenha algo a ver com as técnicas usadas na medicina oriental, para o restabelecimento de um equilíbrio energético-vital, responsável pela saúde. E a própria medicina ocidental joga com vários eixos de equilíbrio: hormonais, energéticos, elétricos. A questão é: o que/quem define os critérios e as fronteiras da ciência para estudo e compreensão dos processos naturais? Hoje ainda rejeita-se a homeopatia como forma de tratamento para desbalanços da homeostasia.
Partindo do princípio que empiricamente essas técnicas de tratamento são, sim, muito úteis e eficazes, eu concluo: 1º, que as práticas humanas são capazes de manipular a energia cósmica que governa os processos biológicos, e 2º, que a transmissão dessa energia através de um canal social (meios de comunicação, práticas religiosas, drogas homeopáticas, práticas sexuais) é subjetiva, e, portanto, têm efeito diversificado entre os indivíduos.
Agora, o que eu estou buscando entender é: como a transmissão de um fluxo energético, na natureza, se transforma num processo geral, que propaga ondas energéticas evolutivas, que se chocam em diversos pontos, gerando zonas de conflito. Acho que é essa combinação de ondas energéticas diferentes em zonas de conflito, sob influência de pressões naturais (ou sociais), que vai gerar eventos aparentemente coincidentes. 
É fácil ver isso ao analisar o indivíduo biológico. O dobramento de uma proteína em uma conformação estável depende de milhares e milhares de probabilidades matemáticas, combinadas com uma tendência biológica à dissipação de energia ao meio, e uma pressão natural ao caos. Em meio a isso, verifica-se nos indivíduos vivos, uma alta fidelidade na “construção”, e no dobramento dessas estruturas. É um processo altamente energético. Agora, o que determina que essa energia não se propague em onda, levando o corpo a uma tendência construtiva/destrutiva, que tenha reflexo biológico, psicológico, social? Entendo que assim, esse desdobramento social leva à propagação da energia pela natureza, e assim, influencia outros indivíduos.
Se a educação do indivíduo, e a formação do caráter, bem como a experiência e o amadurecimento, bem como outros eventos sociais, estiverem relacionados a um fluxo energético geral da natureza, então há algo além da relação social entre os indivíduos, que é dependente dela, mas que tem ação reflexiva sobre as práticas sociais e sobre a autodeterminação da vida.
Enfim, que tal mais um chá?


G. Tritany