sábado, outubro 25, 2008

Enquete: Se tirar, é você?

Responda à enquete. Só pra matar a minha curiosidade, claro.
Estávamos a filosofar logo depois de nos fartar comendo sanduíches...
Daí mirei minha imagem no espelho e perguntei a meu amigo:
"Tem alguma coisa (material) que você veste ou usa sempre, que você sente que sem ela você não é você mesmo?"
Não é tão difícil entender.
Machado de Assis colocou a alma exterior de seu personagem em um posto de alferes. Talvez a sua esteja em algo que você ainda não notou, mas que lhe é importante.
A questão veio da minha incapacidade de reconhecer minha imagem ao espelho quando estou sem brincos. É, só os brincos. Não sinto que sou o mesmo sem eles.
Postagem rapidinha porque ainda tou escrevendo o que gostaria de postar aqui.
Noite.Pergunta:"Tem alguma coisa (material) que você veste ou usa sempre, que você sente que sem ela você não é você mesmo?"

quinta-feira, outubro 23, 2008

Aí ela me disse:

Amor, vou conhecer o mundo. Talvez um dia a gente ainda se veja. Se me encontrar na rua, não deixe de gritar. Até mais, foi muito bom.
E de pequenos recortes faz-se a minha história.

quarta-feira, outubro 15, 2008

"Eu quero uma casa no campo"

Olhei pros céus e lá não tinha ninguém a me esperar.
Dá uma puta tristeza olhar aquelas nuvens ali paradonas e não ver nenhuma menina só de calcinha sorrindo lá em cima a me chamar.
Que foi? Nunca teve nenhuma visão assim?
Não sabe o que está perdendo.
E por falar em visão...
Meu pai ao telefone. Marcando uma noite da bossa nova e o John Mayer cantando alto lá em casa enquanto eu imaginava que tipo de equalização ia me fazer feliz.
Aí eu comecei a viajar.
Eu quero uma casa.
Uma casa grande, aberta aos amigos. Muitos amigos, muitos músicos, uma porrada de instrumentos diferentes pela casa e jam o dia inteiro. Gente bebendo e tocando de dia e de noite. Uma barulheira que não pára. Idéias que não param.
Amigos e amigos, muitas mulheres e gente que eu realmente gosto e meu filho a tocar uma gaita em ré pela casa num som de blues. Um timbre de arrepiar.
Aí chega sexta à noite. Todo mundo sai da faculdade, trabalho, treino, vagabundagem, o que for.
E JAM. O som rola o tempo todo e eu só consigo sorrir.
É claro. sonho realizado e nada mais é necessário.
Boa noite.

quinta-feira, outubro 02, 2008

a sala de estar (II)

Agora a dona da Sala de Estar limita-se a passar rapidamente por ela sem olhar os quadros. Quadros que antes tinham um significado. Não eram quadros de pinturas. Eram registros das melhores festas.

Voltando à história... A nova dona do apartamento não faz muito caso da linda sala que foi decorada pra chocar. Muito sexo ela faz. Fruto de uma mente desocupada, um coração sem rumo e um corpo que desperta desejos carnais em qualquer homem.

Lembro-me bem no tempo em que eu visitava aquele apartamento. Enquanto durava o casamento, passávamos, os três, muito tempo discutindo os prazeres da vida e filosofando jogados naquele sofá. Eu adorava as pinturas na parede.

Em um dia chuvoso o casal se desfez. Pouco me importa os motivos da separação. Só sei que em poucos dias estava eu de volta ao apartamento de número 503. Meu motivo de estar ali era exatamente aquele. Sexo. Nada mais.

E transávamos loucamente. Víamos graça em tudo o que fazíamos ou dizíamos. Passávamos a noite bebendo e rindo. E tudo aquilo de novo. Era um ciclo vicioso.

Não faço a menor idéia de como ganhava a vida essa senhora, pois nunca tive interesse em perguntar. Eu escrevia para um jornal. Um desses que ninguém leva a sério, mas vende igual água pelos comentários ácidos dos jornalistas mais críticos da cidade.

Até a semana passada tudo parecia normal.

Um clima estranho pairava no ar.

Ela ainda devia estar sobre o efeito daquelas pílulas. Veio pra cima de mim; cara diferente, olhos virados, cigarro com a ponta acesa a me queimar o braço. Não pude entender muito bem o que se passava.

Em dois dias tudo ia acabar. Ela chorava muito. Lembro me do bilhete.

“Já não consigo me olhar no espelho. Troque as cores da sala, O.K?”

Era só isso. Isso e o tiro. Só um.

A polícia quis saber o que aconteceu. Nem eu sabia.

Chorei; acordava no meio da noite pensando que ela voltaria. Ilusão.

Sento-me agora naquela sala de estar e começo a escrever esta história. Só porque me parece conveniente. As paredes me parecem tão mais vermelhas agora. Manchas que não são mais perceptíveis, mas eu consigo ver claramente. Sinto sua angústia. Aquele lugar tem um espírito diferente. Eu gosto. Torna-me um animal feroz em busca de satisfação de um desejo intenso.

Daqui a duas semanas tudo será normal.

quarta-feira, outubro 01, 2008

sala de estar;


Felipe chegou tarde em casa naquela quarta-feira. O dia havia passado tão rápido que ele só se deu conta quando sua alma o pedia para descansar. Foi quando ele girou a chave na porta e encontrou sua sala de estar. Chegou perto da mesinha, largou seu pesado relógio, tirou as ferramentas da vida moderna de seus bolsos, e jogou-se no sofá.

Era uma sala de estar comum. No centro de um apartamento decorado de uma forma original, fora dos padrões normais de decoração. Mas era exatamente como Felipe o havia imaginado. Dava uma impressão de leveza, liberdade, e talvez até sensualidade. Sim, era a sala de estar mais sensual que você pode imaginar. De fato, era exatamente essa a intenção do dono do apartamento.

Cercado de pensamentos que se misturavam em sua cabeça, Felipe ligou o som. No rádio falava-se sobre o mau tempo lá fora. E foi nesse momento que ele notou que estava com os cabelos molhados. Mas a sensação de satisfação que corria em suas veias e lhe abria um belo sorriso no rosto era inebriante ao ponto de fazê-lo desligar-se desse mundo e da rotina. Que o resto da semana explodisse. Levantou-se e foi vestir uma camisa. Ele ia sair. Ia ver uma linda moça que talvez quisesse sua companhia.

Não se sabe ao certo o que é que Felipe via naquela mulher. Na verdade, ninguém entendia como o rapaz via beleza nas mulheres a quem não se prestava a devida atenção. De alguma forma, ele era atraído pela beleza por trás da máscara que a sociedade veste em cada pessoa. Não era intencional. Era forte, como flecha que atinge a mente. Ele simplesmente se agarrava aos prazeres que a maioria das pessoas não enxerga por estarem presas ao que é normal e comum. Felipe simplesmente deixava tudo isso de lado. E naquela noite ele só queria possuí-la.

Saiu.

Conferiu as horas. Era tarde. Mais tarde do que ele podia imaginar. Tarde para os que dormiam, cedo para os que acordavam.

Ao vê-la debruçada sobre a janela a esperar, Felipe hesita.

Ainda era cedo. Cedo demais para estragar aquela visão. Ela o chamou. O rapaz lhe pisca o olho direito em resposta. Era o sinal. Daí pra frente é só sexo. Não preciso descrever. Mas você vai tentar imaginar... porque Felipe, sem lembrar de nada acorda em seu sofá. Era cedo. Cedo demais para levantar. Tarde demais para trabalhar.

E daí que era sua sala? Havia mais gente ali. Uma mulher nua. Linda. Não importa. Não era pra estar ali. Não era pra lhe fazer café.
Que foi que deu em sua cabeça pra permitir algo assim?

E a linda moça foi ficando, e ficando...e a sala de estar se encolhendo, encolhendo... e o rapaz foi deixando, deixando...

Casaram-se e vivem felizes. Ou algo assim. De qualquer maneira, um não suporta mais o outro e quando Júlia diz que precisam de um tempo separados, adivinha quem é que sai do apartamento? Adivinhe quem é que fica com a sala de estar? Depois eu conto.