domingo, agosto 23, 2009

Imerso em meu Sofá Universo...

Acendo um cigarro e começo a contar histórias de um tempo não muito distante. Nem tudo sai como a gente espera.
Ela me ouvia atentamente, como uma criança que precisava de um pouco de antenção. Muito eu devia a essa criança; muito aprendi com ela sobre a vida, e um dia, quando eu menos esperava, ela disse "Adeus".
Eu sei lá como deveria me comportar. Era só um grito que me subia à garganta e eu não conseguia vomitar. Talvez fosse a saudade da irresponsabilidade que nutríamos.
Outro dia o telefone tocou. Era Gabriela; dizia: "estou de volta".
Eu sei que não a amo, mas um sentimento de dever me compele a protegê-la das intempéries. Grávida e com os olhos mais fundos que já vi, ela tem passado os dias frios comigo.
Parece-me que a vida não é bondosa com quem não se respeita.
Conheci-a na lagoa e saímos a tomar sorvete juntos. Parecia-se tanto comigo que até assobiava as canções ao vento.
E nem as páginas amareladas de um livro bem traduzido me tiravam sua imagem da cabeça. Foi embora e deixou o chapéu.
Sozinho, nunca mais pensei em encontrá-la. Comprei um terno, uma camisa nova e chinelos iguais àqueles de que eu gostava. E tudo parecia ter cheiro de novo. Nada parecia me enganar agora. Eu era quem era e podia rir em paz.
Nunca pensei que seria enganado novamente. Aqui estou eu, trouxa; amarrado aos cavalos que me levarão ao desconhecido novamente.
Na imensidão do meu sofá universo, conto a vocês que a minha cachaça já se esgotou há muito, e cana como aquela não há mais no mundo. Mundo nosso que está ferido por dentro e por fora. Chora e esfria.
Ao meu lado, tem uma foto nossa. Dos tempos de criança... naquela época eu sabia sorrir de verdade. Se me perguntarem agora o que era aquilo: Era uma família.
Eu não tenho mais. Talvez um dia nós voltemos a nos sentir família uns com os outros, mas até lá, eu vou me esconder e sorrir.
Viver não tem sido a minha fuga. E ver você novamente não vai me fazer feliz. Feche essa porta e apresente-se à sua vida.