quarta-feira, junho 30, 2010

Sobre nada...

Estou em casa, uma leve suspirada antes de começar o estudo de anatomia, e resolvi postar. Minha cabeça voou pelos mais diversos acontecimentos que me intrigam, considerei todas as saudades que sinto. No meio do caminho, algo simples aparecia ao canto, mas nada que me chamasse a atenção de verdade. Aí lembrei que esta semana está me fazendo sentir dores de cabeça, mas nada me veio à mente. Nada mesmo, então resolvi escrever sobre nada.
Às vezes parece loucura, mas o nada que somos reflete na vida de outros, e às vezes, não fazer nada muda tudo. É interessante, como nossas cabeças super cheias simplesmente não percebem que o momento mais incrível é o ócio completo, em que não se pensa em nada. Essa é a mais profunda das reflexões.
Além disso, não tenho tido vontade de fazer nada, mas a disciplina tem tentado falar alto no meu ouvido.
Hoje sou inconstante, amanhã serei outro. O que me fez mudar tanto de um instante tão curto?
O som que embala minha noite não é o mesmo que era ontem, mas é o mesmo de uns dois ou três anos atrás. Quando você pensa em nada, mil coisas vêm à cabeça, e aquele fim de semana em que todos fizeram o mais absoluto silêncio ao toque do telefone apareceu pra mim. Lembro com saudades daquele dia em que as guitarras soaram tão alto que podíamos sentir a pele arrepiar. Naquele dia, eu não pensei em nada, naquele dia, eu vi tudo.
Um breve suspiro antes de cair na água, e a disciplina de chegar cada dia mais longe, de sair da água cada dia mais forte, de chegar em casa com cada dia mais vontade de aprender muito, abrir um livro, pesquisar no sumário, folhear umas páginas e descobrir que adoro fazer medicina.
Quando penso em nada, minha cabeça fica livre, vejo o sol, canto uma canção aos deuses, que também são seus deuses, mas que têm outros nomes, ou que têm outras imagens, quando na verdade, suas imagens são nada, são sentimento, são força. Eu ainda não tomei o primeiro banho no mar do Rio desde que vim morar aqui. Quem sabe outra hora.
Saudades daquele tempo, eu era tão livre, tão calmo, tão ignorante... Às vezes a vida dá voltas e te coloca bem no lugar que você tinha certeza de que lá não estaria. É aí que você levanta a cabeça e diz: eu tenho a oportunidade de viver, de me enganar, de tentar e de aproveitar minha chance. Eu sou quem eu sou, quem eu construí durante anos de histórias cheias de erros, cheias de aprendizados, cheias de aplicações erradas, cheias de teorias. Então sento debaixo da árvore imaginária, aquela que procuro há anos, sob cuja sombra vou me refrescar, pensar que a vida, no final é uma faísca no meio do nada, uma sucessão de acertos no meio de tantos erros, um monte de mutações pontuais e jogos de palavras que assombram a noite dos que abriram a cabeça para descobrir que somos nada, e é pra lá que estamos indo.
G. Tritany