quarta-feira, setembro 08, 2010

O meu orgulho pede uma sede.

E isso é imutável. Não são duas ou três cervejas que vão mudar. Eu sei que eu deveria aceitar humildemente que as coisas estão mais ou menos onde deveriam estar, mas a história é sobre ignorância de uma corja dominante.

A minha escola é a mais antiga, tem 202 anos e ainda vai durar mais duzentos, se o governo não cometer mais nenhuma atrocidade e se ainda houver cobrança dos estudantes por algo melhor. A questão é que a Faculdade Nacional de Medicina não existe mais. Deixou de existir um ano depois que a escola passou a se chamar Faculdade de Medicina da UFRJ e foi transferida para o fundão, principal campus da então chamada Universidade do Brasil. O saudosismo é pura questão de orgulho, e eu tenho esse orgulho. Não me leve a mal, mas eu tive boas e más experiências com militares e posso dizer que entendo o que aconteceu.

O fato é que a minha escola não tem uma sede. Tente andar pelos corredores do centro de ciências da saúde e perguntar onde fica a faculdade de medicina. Certamente uma alma caridosa saberá explicar que até há uma salinha onde se encontra uma secretaria, mas que ela fica próxima a um piano e a outras relíquias que ninguém sabe onde guardar. Queria eu sentir o orgulho de entrar todo dia por aquela frente do CCS e dizer: também faço parte dessa história. E se você vai ficar irritadinha comigo, pode fechar esta página, não há nada aqui que não seja eu, de cabo a rabo.

Em 1973, por força de um novo regime no Brasil, a reforma universitária que renomeou a UFRJ, decretou a transferência da Faculdade de Medicina para o Fundão, onde ela foi dividida em várias unidades (o que dificulta a comunicação). Logo após a transferência, em 1975, o lindo prédio da Faculdade Nacional de Medicina foi demolido, durante o governo Médici. Vale lembrar que a ignorância suplantou a consciência, que a brutalidade suplantou a razão e que eu sinto tanta, tanta pena daqueles pobres coitados, assim como também sinto uma enorme pena por não poder conhecer a arquitetura que até hoje inspira imagens ilustrativas. Dá a entender que algo bonito era aquele espaço. Qualquer um que se interessar pode fazer uma visita virtual ao prédio, e eu juro que é bem provável que vá adorar.

Mas, sinceramente, por que estou eu aqui resmungando à queda de uma morada? Orgulho? Também. A realidade é que o orgulho e o prazer pessoal sempre suplanta o coletivo, isso é notório numa sociedade em que homens públicos têm tanto dinheiro que este poderia ser usado para alimentar os 50% mais pobres por mais de 10 anos. Além desse quesito, vale lembrar que há uma enorme burocracia hoje na Faculdade de Medicina. Tal entrave é gerado pela distância física entre os seus vários órgãos corporativos. Isso não quer dizer que a internet não possa fazer o serviço integrativo, mas que a união física transpõe barreiras burocráticas enormes.

De qualquer maneira, fica registrada minha angústia. Chego a me preocupar, será que não devia estar me engajando em assuntos mais importantes? Acho que não. O que me vem à cabeça é uma enorme tristeza e uma vontade de ter presenciado época em que tal escola tinha alunos unidos, que pensavam alto, que pensavam a favor do Brasil, que realmente mereceram carregar no peito a palavra Nacional no nome de sua faculdade; Àqueles que lutaram contra o regime e que se uniram por algum ideal, meus cumprimentos. Aos jovens que hoje não sabem o que pode significar a palavra “ideal”, meus pêsames.

G.Tritany