de pés descalços, cabelos molhados. Um gosto de sal na boca; o corpo cheio de areia, como se tivesse rolado na maré a noite toda, desacordado.
Amarrado pelos calcanhares, só conseguia ver o sol que me ardia os olhos, enquanto o mar me ardia a pele ralada. Sangue e sal se misturavam.
E aí veio você: me olhou com aqueles olhos de cansaço, que você sempre exibe. Saltou por cima das ondas, esqueceu que eu estava ali. Levantou as saias, e se aproximou do mar.
E todos os braços que te ajudavam a me prender, agora também me puxavam para perto de você; afogavam minha cabeça, me faziam engolir tantas preces, tantas histórias que se apagavam da minha memória, como se empurrassem acordes pela goela de uma viola…
Sensual e feia, sua voz cantava uma música de saudade. Uma saudade dolorosa, mas secreta. Sem segredos, você nunca cantava essas coisas tristes quando a gente era um. E minha mente ainda viaja, agora, de longe, nos versos que você sussurrava para Iemanjá.
Suave, mas rouca, pedia para voltar. E ignorava minha presença sofrida, louco por me agarrar em suas coxas; desamarrar os pés suspensos por cordas duras.
Eu não quero ir.
Me ensina de novo a escrever seu nome na areia, pra quando o mar lavar, levar pra mim todas as melodias roucas e as histórias bobas, que você me contava antes de sorrir.
G. Tritany