...tenho pensado muito se existe uma lógica na natureza que permita que os eventos se organizem de alguma forma que se propague, como num fluxo energético, que dissipado pela natureza, se concentra em focos, gerando eventos consenso.
Essa discussão toda, pode parecer algo
relacionado à fé ou uma visão alternativa à religiosidade cristã, que substitua
a improvável "vontade divina" nas transformações, mas não é nada
disso.
É uma questão biofísica: eu e você somos matéria. E é essa matéria viva
que produz energia a todo momento. Essa energia que governa os processos
biológicos tem uma origem evolutiva, e se propaga além do indivíduo. De alguma
forma, isso significa que as ações e tendências biológicas são governadas por
um processo energético, que é também social, porque as ferramentas da sociedade
são usadas para transferir essa energia.
Assim, quando transmitimos emoções através de um texto, uma poesia, uma
música, estamos dissipando energia na construção de um meio social que permita
repassar uma emoção. A recepção de uma emoção diferente da originalmente
transmitida, neste caso, pode acontecer, porque o meio usado para propagação de
energia é um meio material de comunicação. É compreendido de maneira diferente pelos indivíduos.
Outra maneira de ver isso é quando uma prática religiosa imprime ao
indivíduo uma sensação espiritual. Sem entrar no assunto da espiritualidade, eu
digo que ao menos ela pode ser compreendida como um estado psico-emocional e, às vezes, sensorial. Enfim, um processo que também é biológico. Assim, dá pra
dizer que a atividade humana social é capaz de manipular energeticamente a
atividade biológica. Eu vejo isso de uma maneira simples: práticas religiosas
teriam essa capacidade, mas também práticas sociais como o convívio social, o
sexo, a arte, por resultarem de uma interação entre o indivíduo, através de seu
caráter, com a sociedade e, diretamente, com outros indivíduos, dão passagem a um fluxo
energético que tem influência sobre os aspectos bio-psicológicos da vida.
Talvez isso tenha algo a ver com a biofísica do orgone, descrita por
Reich. Talvez tenha algo a ver com as técnicas usadas na medicina oriental,
para o restabelecimento de um equilíbrio energético-vital, responsável pela
saúde. E a própria medicina ocidental joga com vários eixos de equilíbrio: hormonais,
energéticos, elétricos. A questão é: o que/quem define os critérios e as fronteiras da ciência para
estudo e compreensão dos processos naturais? Hoje ainda rejeita-se a homeopatia
como forma de tratamento para desbalanços da homeostasia.
Partindo do princípio que empiricamente essas técnicas de tratamento
são, sim, muito úteis e eficazes, eu concluo: 1º, que as práticas humanas são
capazes de manipular a energia cósmica que governa os processos biológicos, e
2º, que a transmissão dessa energia através de um canal social (meios de
comunicação, práticas religiosas, drogas homeopáticas, práticas sexuais) é subjetiva,
e, portanto, têm efeito diversificado entre os indivíduos.
Agora, o que eu estou buscando entender é: como a transmissão de um fluxo
energético, na natureza, se transforma num processo geral, que propaga ondas
energéticas evolutivas, que se chocam em diversos pontos, gerando zonas de
conflito. Acho que é essa combinação de ondas energéticas diferentes em zonas
de conflito, sob influência de pressões naturais (ou sociais), que vai gerar eventos aparentemente
coincidentes.
É fácil ver isso ao analisar o indivíduo biológico. O dobramento de uma
proteína em uma conformação estável depende de milhares e milhares de probabilidades
matemáticas, combinadas com uma tendência biológica à dissipação de energia ao
meio, e uma pressão natural ao caos. Em meio a isso, verifica-se nos indivíduos
vivos, uma alta fidelidade na “construção”, e no dobramento dessas estruturas.
É um processo altamente energético. Agora, o que determina que essa energia não
se propague em onda, levando o corpo a uma tendência construtiva/destrutiva,
que tenha reflexo biológico, psicológico, social? Entendo que assim, esse
desdobramento social leva à propagação da energia pela natureza, e assim,
influencia outros indivíduos.
Se a educação do indivíduo, e a formação do caráter, bem como a
experiência e o amadurecimento, bem como outros eventos sociais, estiverem
relacionados a um fluxo energético geral da natureza, então há algo além da
relação social entre os indivíduos, que é dependente dela, mas que tem ação
reflexiva sobre as práticas sociais e sobre a autodeterminação da vida.