São muitas
músicas passando pela minha cabeça, milhares de vozes e de solos de
guitarra cantam um fim doloroso do que começou e viveu como um
turbilhão de cores e sons. Hoje, depois de suar minhas dores no
asfalto, só consigo olhar para trás e desejar ter feito tudo
diferente. É muito ruim sentir isso. Tudo diferente, mas nem tudo.
Te conhecer, entrar nesse transe incrível que é o entrelaçamento
de nossos dedos, enquanto os lábios fundem suas peles e me
transformam um pouco mais em você e te fazem sentir um pouco de mim,
foi – e tem sido – a experiência mais viva de emoção que eu já
conheci. Eu não preciso pedir desculpas para mim mesmo, eu estava
errado. Fiz o oposto do que disse, pensei mais em minhas desculpas do
que na felicidade de nós dois, e agora mal consigo expressar numa
palavra a tristeza que me corta o peito.
O sol hoje
nasceu cedo. Dificilmente pudemos compartilhar esse momento juntos,
eu sei. Você dorme tarde, pode até ver o sol nascer ao fim do seu
dia. Para mim, o primeiro raio é o começo de tudo, e a décima
segunda badalada é a hora de recolher minhas abóboras, porque o dia
já quebrou todos os cristais.
Há uma
pedra no meu peito. É pesada, vermelha como o amor que nós
nutrimos, e me faz sentir mais humano, porque quando me sinto mais
duro, sei que é da ternura que nós nos criamos, e que é dela que
precisamos. Demorei muito para aprender isso, e se me perguntar,
ainda não sei muito bem o que significa este sentimento, porém,
neste momento, olho pela janela: só consigo ver todas a paisagem em
sua concretude vazia. Não tem você para eu mostrar nada.
Ontem foi
errado. Fui errado. Estava tão certo de que nos veríamos, que
esqueci de tudo, fui a outro mundo no meu desespero. Foi um momento
insano mesmo; a insanidade de encontrar onde havia um coração, um
calor, um carinho, um cheiro, descobrir que não tem mais nada.
Notar, de repente, que se está completamente sozinho é muito ruim.
E dói mais porque nada passa essa solidão, porque ninguém pode
entender o que passou no meu peito, exceto você, que como disse “já
se transformou”, já findou. Rompe esta casca, voa, mostra tuas
asas coloridas para o mundo, deixa o sol brilhar nas tuas costas
azuis. Foge para longe. Mas não esquece a ternura que, enquanto
pupa, você me mostrou. Não te esquece que ainda me sinto verde, e
que estou completamente amedrontado, aterrorizado, desesperado frente
ao escuro casulo em que me encontro. Quem sabe, num outro momento,
você queira voar comigo, e me mostrar, do alto, os lugares por onde
você passou.
Obrigado.
Gui