domingo, fevereiro 02, 2014

A Pedra e o Casulo


São muitas músicas passando pela minha cabeça, milhares de vozes e de solos de guitarra cantam um fim doloroso do que começou e viveu como um turbilhão de cores e sons. Hoje, depois de suar minhas dores no asfalto, só consigo olhar para trás e desejar ter feito tudo diferente. É muito ruim sentir isso. Tudo diferente, mas nem tudo. Te conhecer, entrar nesse transe incrível que é o entrelaçamento de nossos dedos, enquanto os lábios fundem suas peles e me transformam um pouco mais em você e te fazem sentir um pouco de mim, foi – e tem sido – a experiência mais viva de emoção que eu já conheci. Eu não preciso pedir desculpas para mim mesmo, eu estava errado. Fiz o oposto do que disse, pensei mais em minhas desculpas do que na felicidade de nós dois, e agora mal consigo expressar numa palavra a tristeza que me corta o peito.
O sol hoje nasceu cedo. Dificilmente pudemos compartilhar esse momento juntos, eu sei. Você dorme tarde, pode até ver o sol nascer ao fim do seu dia. Para mim, o primeiro raio é o começo de tudo, e a décima segunda badalada é a hora de recolher minhas abóboras, porque o dia já quebrou todos os cristais.
Há uma pedra no meu peito. É pesada, vermelha como o amor que nós nutrimos, e me faz sentir mais humano, porque quando me sinto mais duro, sei que é da ternura que nós nos criamos, e que é dela que precisamos. Demorei muito para aprender isso, e se me perguntar, ainda não sei muito bem o que significa este sentimento, porém, neste momento, olho pela janela: só consigo ver todas a paisagem em sua concretude vazia. Não tem você para eu mostrar nada.
Ontem foi errado. Fui errado. Estava tão certo de que nos veríamos, que esqueci de tudo, fui a outro mundo no meu desespero. Foi um momento insano mesmo; a insanidade de encontrar onde havia um coração, um calor, um carinho, um cheiro, descobrir que não tem mais nada. Notar, de repente, que se está completamente sozinho é muito ruim. E dói mais porque nada passa essa solidão, porque ninguém pode entender o que passou no meu peito, exceto você, que como disse “já se transformou”, já findou. Rompe esta casca, voa, mostra tuas asas coloridas para o mundo, deixa o sol brilhar nas tuas costas azuis. Foge para longe. Mas não esquece a ternura que, enquanto pupa, você me mostrou. Não te esquece que ainda me sinto verde, e que estou completamente amedrontado, aterrorizado, desesperado frente ao escuro casulo em que me encontro. Quem sabe, num outro momento, você queira voar comigo, e me mostrar, do alto, os lugares por onde você passou.
Obrigado.


Gui