domingo, julho 27, 2014

Sozinho, afinal, no fim dos tempos

São 1:05 da manhã. Não sei o que fazer da minha vida. Uma forte tristeza me tirou de casa, junto com ela uma palpitação que eu não consigo evitar. Não chove, mas o meu coração chora frente à infelicidade de um beco sem saída. Só tem dois caminhos: o beco escuro ou a volta à rua solitária. Sinceramente, eu não sei dizer onde prefiro me esconder.
Lá de cima, as pessoas felizes piscam luzes de seus apartamentos. Devem estar planejando amor ou fazendo uma viagem. Tanto faz. Pra mim, tudo o que resta é aceitar a solidão crescente, escondida sob abraços solidários.
Os carros passam, as pessoas alegres se embebedam um pouco mais, e tudo parece normal. Exceto pelo vento, que parou. Eu esperava chegar aqui na beira do início de tudo e sentir um forte vento no rosto. Que cortasse as  feridas do rosto cheio de barba, que levasse embora a tristeza de meu coração. Contento-me em admirar a paisagem morta e contemplar as relações quase humanas dos seres noturnos que habitam esse lugar. Olho para dentro do meu ego e vejo um enorme olho me julgando de volta. E todas as coisas ruins que eu queria digerir aparecem de novo, como ruminação do velho e apodrecido vômito da bile que me escorre à boca no momento de cólera embriagada.
Que bom estar só para sentir isso. Não aguento mais dar explicações. É como se para tudo que parece tão complexo como a rrealidade houvesse um nome que confirmasse a simplicidade ignorante e duvidosa das emoções dolorosas. Acabou a minha paciência!
Eu não quero mais meias verdades. Não quero mais esconder dias tristes. Estou cansado das histórias de amor  inacabáveis e dois relacionamentos conturbados. Estou cansado. Tudo o que eu vejo é cego e nada leva a lugar nenhum a não ser a velha saudade de ser um de novo e sentir que sirvo para fazer alguém feliz, nem que seja só a mim mesmo.
Acabou o cigarro e, pelo visto, não vou ter vontade de voltar. Ainda é cedo pra reabrir antigos debates, e eu preciso controlar minha vontade louca de gritar até destruir tudo, até que não exista mais nada que possa me fazer sentir que a vida não vale à pena ser vivida assim. Queria voltar uns 5 ou 6 anos. Viver os amores e os desencantos, as intermináveis horas entre um e outro dia de sorrisos frios, e o aconchego de bochechas geladas. Não posso desejar mais.
Já chega.
G. Tritany