terça-feira, setembro 09, 2008

"Ignorância é Tranquilidade",

Já ouviram isso? Eu gostaria de não tê-lo nem visto.
Eu perdi o ponto. Dormi demais. Estava pensando no rumo que tomaram certas relações. No quão decepcionado estou. Mas isso é outra história.
Dormi demais e acordei longe. Na área mais pobre e mais esquecida do bairro.
Passava por aquelas ruazinhas e imaginava o que eu faria se vivesse aquela vida.
Eu estudaria de manhã. talvez sim. Eu passaria minhas tardes fazendo algo totalmente diferente do que eu faço agora. Depois, eu encontraria meus amigos. Pessoas que moram perto de mim e e pensam parecido. Mesma realidade, experiências parecidas. Deito-me com as meninas da vizinhança e meu coração bate perdidamente pela morena filha do cabra mais rabugento da comunidade. Feliz e tranquilo, eu nem sonho com "mobilidade social", e o que eu vejo na televisão me parece muito justo e bem dito. Não faço a menor idéia de como se administra o pouco dinheiro que tenho, e não ligo se você o faz. Eu vivo uma vida simples e vivo feliz, perto de amigos de infância que não são lá grande coisa, mas são meus amigos. Pouco me importa como organiza-se a sociedade, ou o que quer que seja isso. Não entendo o que me diziam na escola e o porquê de ir àquela casa todo santo dia receber instruções de uma pessoa que só porque sabe meia dúzia de coisas científicas, acha-se superior a mim.
Talvez daqui a dez anos eu olhe pra trás e não veja diferença. Continuo o mesmo. Sinto-me depressivo quando penso na merreca que ganho no meu trabalho como empacotador, mas faz parte. Na minha cabeça, todos estão descontentes com o que fazem, mas o fazem porque trabalhar é a ordem natural das coisas. Não que eu entenda o que "ordem natural das coisas" quer dizer, mas sou assim.
Voltando à minha realidade...
Revoltado. É como me sinto. Eu recebi de alguém, seja lá quem for, a capacidade de analisar as coisas, pessoas, sociedades. Eu aprendi a ler e a escrever, não para repetir, mas para interpretar e criar. Eu aprendi as ciências e as teorias, para conhecer o mundo, e tudo isso só resultou na minha revolta.
O mundo está todo errado.
Eu vejo as guerras, eu vejo as pessoas, eu convivo com gente que sabe muito e gente que não sabe nada. Eu convivo com gente que tem muito, e gente que não tem nada.
Gente, gente. O mal que assola o mundo. A matriz funciona. A organização é que está errada.
Eu conheço a mobilidade social, eu aprendi alguma coisa sobre administrar dinheiro. Eu não trabalho, eu estudo. Eu sei o porquê de estudar tanto. Eu valorizo o conhecimento. Não a decoreba nojenta que nos ensinam nas escolas, mas a rede imensa que atravesso enquanto penso. As ligações entre conceitos e idéias. Idéias que nem são minhas, mas que eu conheço.
Eu não acredito na mídia, eu reflito sobre o que aqueles porcos me dizem, e reaproveito o melhor da informação.
Não vou falar sobre os meus amigos. Talvez a decepção que estou sentindo agora seja só uma fase. Talvez tenha sido só um descuido e tudo possa ser resolvido conversando.
Mas de uma coisa eu tenho certeza: Cada vez que eu penso em tudo o que eu conheço, eu acabo chegando a um ponto de revolta. Talvez ainda haja alguém que possa me explicar por que eu amo tanto o conhecimento, mas por entender tudo isso, sinto tanta tristeza...
Não vou falar sobre a minha decepção com as pessoas que eu amava. Embora seja exatamente disso que eu queria falar.
Deixa pra lá.
Boa noite.