quarta-feira, outubro 01, 2008

sala de estar;


Felipe chegou tarde em casa naquela quarta-feira. O dia havia passado tão rápido que ele só se deu conta quando sua alma o pedia para descansar. Foi quando ele girou a chave na porta e encontrou sua sala de estar. Chegou perto da mesinha, largou seu pesado relógio, tirou as ferramentas da vida moderna de seus bolsos, e jogou-se no sofá.

Era uma sala de estar comum. No centro de um apartamento decorado de uma forma original, fora dos padrões normais de decoração. Mas era exatamente como Felipe o havia imaginado. Dava uma impressão de leveza, liberdade, e talvez até sensualidade. Sim, era a sala de estar mais sensual que você pode imaginar. De fato, era exatamente essa a intenção do dono do apartamento.

Cercado de pensamentos que se misturavam em sua cabeça, Felipe ligou o som. No rádio falava-se sobre o mau tempo lá fora. E foi nesse momento que ele notou que estava com os cabelos molhados. Mas a sensação de satisfação que corria em suas veias e lhe abria um belo sorriso no rosto era inebriante ao ponto de fazê-lo desligar-se desse mundo e da rotina. Que o resto da semana explodisse. Levantou-se e foi vestir uma camisa. Ele ia sair. Ia ver uma linda moça que talvez quisesse sua companhia.

Não se sabe ao certo o que é que Felipe via naquela mulher. Na verdade, ninguém entendia como o rapaz via beleza nas mulheres a quem não se prestava a devida atenção. De alguma forma, ele era atraído pela beleza por trás da máscara que a sociedade veste em cada pessoa. Não era intencional. Era forte, como flecha que atinge a mente. Ele simplesmente se agarrava aos prazeres que a maioria das pessoas não enxerga por estarem presas ao que é normal e comum. Felipe simplesmente deixava tudo isso de lado. E naquela noite ele só queria possuí-la.

Saiu.

Conferiu as horas. Era tarde. Mais tarde do que ele podia imaginar. Tarde para os que dormiam, cedo para os que acordavam.

Ao vê-la debruçada sobre a janela a esperar, Felipe hesita.

Ainda era cedo. Cedo demais para estragar aquela visão. Ela o chamou. O rapaz lhe pisca o olho direito em resposta. Era o sinal. Daí pra frente é só sexo. Não preciso descrever. Mas você vai tentar imaginar... porque Felipe, sem lembrar de nada acorda em seu sofá. Era cedo. Cedo demais para levantar. Tarde demais para trabalhar.

E daí que era sua sala? Havia mais gente ali. Uma mulher nua. Linda. Não importa. Não era pra estar ali. Não era pra lhe fazer café.
Que foi que deu em sua cabeça pra permitir algo assim?

E a linda moça foi ficando, e ficando...e a sala de estar se encolhendo, encolhendo... e o rapaz foi deixando, deixando...

Casaram-se e vivem felizes. Ou algo assim. De qualquer maneira, um não suporta mais o outro e quando Júlia diz que precisam de um tempo separados, adivinha quem é que sai do apartamento? Adivinhe quem é que fica com a sala de estar? Depois eu conto.