sábado, novembro 01, 2008

curto n° 9;

Corria os corredores como um louco todos os dias.
Era sempre assim. Acordava vinte minutos depois do relógio com o sol entrando em seu quarto. E João descia as escadas como louco, jogava uma água no rosto e pedalava as duas longas quadras até aquele lugar que ele chamava de escola.
Quando me contaram sobre o problema do menino em cumprir seus horários, eu ri lembrando da minha adolescência.
Nunca entendera a razão de levantar-se cedo pra ouvir um careca falando sobre o quanto era bonita a literatura de um desses velhos escritores que todos dizem apreciar, mas ninguém realmente gosta. E era segunda-feira. Tudo o que conseguia ver era a menina do outro canto da sala. João conhecia seu nome, seus gostos, suas manias... criara um padrão para compreender o comportamento de sua musa. Ela se chamava Ana. Ana, Ana, menina tão linda, estudiosa, caprichosa, popular. Só se for em seus sonhos, meu rapaz.
Ana, que não ligava para caprichos. Só conhecia festas, namoros, jogos, drogas, sons, viagens e nunca entendera a razão de estar na escola. Ignorava completamente a existência de um tal João. Mesmo que este passasse as manhãs a observá-la.
Era uma vez dois jovens no maior colégio da cidade. Um rapaz e uma linda menina. Nunca trocaram uma palavra. Ou se trocaram, foi a palavra mais importante da vida de João; ao mesmo tempo, foi a mais insignificante na vida de Ana.
Se você procura um final feliz, busque outro tipo de texto. Aliás, essa história não tem final.
Acabou-se meu tempo de intercâmbio naquele país e eu nunca cheguei a saber o que aconteceu com aquelas pessoas daquela escola.
Não espere grandes surpresas.


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