O
sol faz ebulir o vapor que nos esquenta os ombros, que faz suar a
testa. Mas os olhos se arregalam, e vem o vapor subir pelas narinas,
tapar os ouvidos e aguçar o toque. Articulam-se as mãos, revelando
o que há de mais neste mundo, que não pode ser visto por dentro da
relação estrutural, mas de fora. Nem tudo são sons numa conversa,
mas o violão pode ser o meio fluido por onde as palavras carregam a
história.
Mas
a companhia é boa, e a realidade está em debate. Quase não noto
que o dia passa rápido, mas passa bem. Parece que estrelas passaram
sobre as nossas cabeças enquanto o sol nos impede de vê-las.
Afinal,
é domingo, que mais poderia esperar?
No
caminho da libertação, fortes ondas podem ser ouvidas, trazendo o
sopro do mar, aquele que nunca vimos juntos. Que azar.
Alegra
me o coração saltar de dentro de uma onda com os braços abertos,
para mergulhar no céu, onde sou livre como um pássaro para voar,
para esquecer. Steiner está errado. Esquecer não muda a realidade,
não amadurece nada.
Nada
muda o fato de que sozinho, já em casa, meu corpo salgado estranha a
solidão no vazio deste sofá tão vasto. O mesmo vazio que me
empurra para fora do sono, apertado na cama. Nada que eu possa parar
por vontade. Qu'eu sinto agora é só saudade. Steiner está errado.
Ou é a sua interpretação que está. A coisa não se torna
automática, e se virar isso, o esquecimento é maléfico.
Agora
sinto na varanda o cheiro da jornada mais cedo. Me levava para fora
de mim, para um plano onde é difícil ver esse coração bloqueado,
batendo meio torto. Agora sinto que aquilo que pulsa em mim tem nome,
e causa um embrulho no estômago. Ou é só o ajeitar de coisas no
vazio. Quanto mais eu como, mais me encho de nada.
Mas
a violência das ondas ainda me molha as ideias, dá vontade de
sorrir para a lua enorme, que eu vejo de minha varanda. Vapores agora
sobem do chá, que eu materializo sobre o banco de madeira ao meu
lado, de tanta vontade, mas que ainda está sobre a mesa, esperando
para ser servido.
Que
seu sabor possa me fazer lembrar de ontem.