domingo, fevereiro 24, 2013

Pensemos na manhã, esqueçamos o resto!


O sol faz ebulir o vapor que nos esquenta os ombros, que faz suar a testa. Mas os olhos se arregalam, e vem o vapor subir pelas narinas, tapar os ouvidos e aguçar o toque. Articulam-se as mãos, revelando o que há de mais neste mundo, que não pode ser visto por dentro da relação estrutural, mas de fora. Nem tudo são sons numa conversa, mas o violão pode ser o meio fluido por onde as palavras carregam a história.
Mas a companhia é boa, e a realidade está em debate. Quase não noto que o dia passa rápido, mas passa bem. Parece que estrelas passaram sobre as nossas cabeças enquanto o sol nos impede de vê-las.
Afinal, é domingo, que mais poderia esperar?
No caminho da libertação, fortes ondas podem ser ouvidas, trazendo o sopro do mar, aquele que nunca vimos juntos. Que azar.
Alegra me o coração saltar de dentro de uma onda com os braços abertos, para mergulhar no céu, onde sou livre como um pássaro para voar, para esquecer. Steiner está errado. Esquecer não muda a realidade, não amadurece nada.
Nada muda o fato de que sozinho, já em casa, meu corpo salgado estranha a solidão no vazio deste sofá tão vasto. O mesmo vazio que me empurra para fora do sono, apertado na cama. Nada que eu possa parar por vontade. Qu'eu sinto agora é só saudade. Steiner está errado. Ou é a sua interpretação que está. A coisa não se torna automática, e se virar isso, o esquecimento é maléfico.
Agora sinto na varanda o cheiro da jornada mais cedo. Me levava para fora de mim, para um plano onde é difícil ver esse coração bloqueado, batendo meio torto. Agora sinto que aquilo que pulsa em mim tem nome, e causa um embrulho no estômago. Ou é só o ajeitar de coisas no vazio. Quanto mais eu como, mais me encho de nada.
Mas a violência das ondas ainda me molha as ideias, dá vontade de sorrir para a lua enorme, que eu vejo de minha varanda. Vapores agora sobem do chá, que eu materializo sobre o banco de madeira ao meu lado, de tanta vontade, mas que ainda está sobre a mesa, esperando para ser servido.
Que seu sabor possa me fazer lembrar de ontem.