Vejo
o sol baixar à frente, com seus raios rasgando as cortinas nos
outros prédios. É normal. Toda tarde deve ser assim, mas hoje há
um livro de um assunto muito chato à minha frente, há um sono que
não me abandona, há uma vontade louca de sair por aí, pegar a
bicicleta e passear pelo mundo. Tenho medo de nunca mais encontrar a
resposta para tantas perguntas, de ter grafado palavras duras demais.
Mas não é hora de pensar nisso.
Tem
um postal ao lado da minha mesa, faz lembrar de dois artistas. Duas
pessoas daquelas que cruzam nossas vidas. É interessante como o
coração aberto pode levar nossas mentes a se conectarem com totais
estranhos, mas que dali em diante, passam a exibir um sinal: a
ligação que temos. E não é à toa: cada vez que sua imagem vem à
mente, o cérebro atribui um significado a mais. O signo emocional.
E o signo que me vem à mente ao puxar de dentro de um livro seu postal é o de que tudo mudou rápido demais, e eu esqueci para que serviria aquela pequena peça de arte. Agora ela é mais uma relíquia de um sentimento avassalador. Se olhada de fora, não diz nada, mas guarda sob a ponte o mesmo sol que desce agora na minha janela.
É
confuso encontrá-los sozinho, mas ainda assim, dizer “adeus, boa
sorte”. Que os ventos do mundo levem uma mensagem de carinho. Nesse
dia me senti tão só. Mas é só uma lembrança.
O
vento leva agora um pedaço de papel para cima. Estou no sétimo
andar, e vejo esse leve bilhete voando em direção a outra janela,
bem ao longe. Ainda posso imaginar que alguém de fato possa estar
tentando se comunicar, que esteja lançando uma mensagem desesperada,
que, como mágica, abandona seu remetente, para encontrar alguém que
ainda não pode compreendê-la.
Às
vezes compartilho do desespero de Pink. Quando estou sozinho, não
quero drogas para me sentir mais calmo, nem braços, nem abraços.
Mas é um sentimento ruim, doloroso.
Eu
quero os sorrisos de hoje, o som das conversas, a vontade de
contribuir a cada dia para mudar este mundo. A mudança para que faça
sentido de verdade dizer que o estudo dos manuais técnicos vai fazer
construir a sociedade, em vez de consumir minha juventude na
alienação individualista, com o sonho de um pretenso brilhantismo,
um sonho sem realidade. Quero o sonho coletivo, que a gente pode
construir em bases sólidas, organizando os que também sonham e que
lutam, para destruir todos aqueles que estão embarreirando a nossa
liberdade e o nosso futuro.
Nada
mais.